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Educação Física vai além dos esportes


Abmael e estudantes na sala de tecnologia: gráficos indicam o resultado da pesquisa. Foto: Gustavo Lourenção
Abmael e estudantes na sala de tecnologia: gráficos indicam o resultado da pesquisa. Foto: Gustavo Lourenção  
Quando as aulas começaram no início de 2004, o professor Abmael Rocha Junior se viu diante de um problema: como lecionar Educação Física para estudantes do noturno que chegavam exaustos à escola, sem condições de fazer ginástica ou praticar esportes? A maioria dos alunos, quase adultos muitos deles evadidos em anos anteriores , pegava pesado o dia inteiro nos frigoríficos da cidade de Nova Andradina (MS), onde se localiza a Escola Estadual Austrílio Capilé Castro. A solução veio da própria classe. Reportagem exibida pela TV sobre a epidemia mundial de obesidade levou a turma a perguntar: Professor, isso é verdade? Os jovens não notavam na escola uma quantidade tão grande de obesos. Era a deixa que Abmael procurava. Ele poderia ensinar noções de saúde em suas aulas. Os alunos foram investigar se o problema existia na cidade e chegaram a uma conclusão surpreendente: havia muito mais alunos com peso abaixo do ideal.

Passo-a-passo e metodologia 

1. Projeto inclui Matemática e Informática
Além de dar aulas de Educação Física, Abmael coordena à noite a sala de tecnologia educacional. Assim, uniu as duas áreas no projeto. A idéia era mostrar que Educação Física não é só ginástica é também saúde e que nas aulas de informática se aprende a usar softwares para auxiliar na resolução de problemas como a pesquisa sobre obesidade.

O professor contou ainda com a parceria da professora de Matemática Maria Aparecida Rodrigues, que orientou a parte estatística da pesquisa. Juntos, eles dividiram a turma em quatro grupos, cada um responsável por uma atividade. Diante dos computadores, a primeira etapa do trabalho foi a busca de informações sobre o que é obesidade. Os alunos aprenderam que a melhor maneira de descobrir se uma pessoa está obesa é por meio do Índice de Massa Corporal (IMC). O número é obtido pela divisão do peso (em quilos) pela altura (em metros) ao quadrado.

O grupo 1 elaborou um questionário a ser aplicado aos estudantes das outras escolas. A idéia era investigar seus hábitos alimentares. Munidos de um aparelho para medir estatura, balança e questionário, o grupo 2 foi a campo colher os dados. Os jovens visitaram 11 escolas, onde mediram e pesaram 496 estudantes entre 13 e 15 anos. Com as informações em mãos, todos deram início ao cálculo do IMC e, em seguida, à tabulação. Inicialmente o trabalho foi feito no papel, com a ajuda da professora de Matemática. Depois, o grupo 3 confeccionou gráficos e tabelas usando os programas Excel e Word. Não adiantava só ensinar aos alunos como manipular esses aplicativos. Era preciso relacionar os programas à prática pedagógica, explica o professor. O grupo 4 ficou responsável pela parte final, de divulgação dos dados. 

2. Jovens eram desnutridos, e não obesos
Quando a análise foi concluída, os alunos ficaram surpresos. Os resultados mostraram que, em vez de obesos, havia uma grande quantidade de alunos abaixo do peso no município: 29,5% das meninas e 33,8% dos meninos estavam com o IMC inferior a 18,5 (o normal é entre 18,5 e 24,9). Eram obesos mesmo somente 1,5% das garotas e 0,8% dos garotos. Os demais tinham peso normal ou sobrepeso, sem efeito negativo sobre a saúde.

Diante dos números, os alunos passaram a questionar por que havia tantos alunos abaixo do peso em Nova Andradina. Eles perceberam que a maioria deles estava nas escolas mais carentes (em algumas a taxa chegou a 60%). Depois de pensar em várias possibilidades, a hipótese mais plausível era de que os estudantes deveriam estar desnutridos.
A turma de Abmael voltou os olhos então para o questionário aplicado nas escolas quando os colegas foram pesados e medidos. Perceberam que muitos dos que estavam abaixo do peso às vezes tinham como única refeição do dia a merenda escolar. Outros até diziam que comiam bem, mas a qualidade da alimentação começou a ser questionada.

3. Pesquisa causa impacto na cidade
Os alunos fizeram um relatório apontando a necessidade de aprofundar a pesquisa para checar a origem de tantos casos de jovens com peso abaixo do ideal. Com orientação do professor, sugeriram uma melhoria da qualidade da merenda. Propusemos a inclusão de noções sobre reeducação alimentar nas aulas de Ciências e Biologia. Nas de Educação Física, seria interessante fazer um acompanhamento do IMC dos alunos a cada seis meses, explica Abmael.
Com todas as informações em mãos, entrou em cena o grupo 4, que bolou apresentações em PowerPoint e voltou às 11 escolas para contar o que havia sido descoberto. O que os alunos não imaginavam é que o impacto do trabalho seria muito maior. Quando soube dos resultados da pesquisa, um vereador da cidade convidou a turma para se apresentar no plenário da Câmara. Mesmo um pouco envergonhados, eles foram pedir mais atenção à merenda. O secretário de Saúde também fez questão de receber os dados. Agora todos estão engajados em ampliar a pesquisa para descobrir se o problema se repete entre estudantes de outras faixas etárias.

Por

Giovana Girardi (novaescola@atleitor.com.br), Meire Cavalcante e Roberta Bencini



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