Quedas em Idosos: A Solução Está no Funcional

As quedas são, infelizmente, um dos eventos mais comuns — e perigosos — na terceira idade. Elas não são apenas “acidentes” aleatórios, mas marcadores de declínio funcional, fragilidade muscular, déficit de equilíbrio e, muitas vezes, de medo de se mover.

Segundo dados da OMS, cerca de 30% dos idosos caem ao menos uma vez por ano. A partir dos 80 anos, esse número sobe para 50%. O impacto vai além das fraturas: muitas vezes, o idoso entra num ciclo de perda de autonomia, medo, sedentarismo e isolamento social.

É nesse cenário que os exercícios funcionais surgem como uma poderosa ferramenta de intervenção.

Por que as quedas acontecem?

Antes de intervir, o profissional precisa compreender que a queda é multifatorial. Envolve:

✔ Perda de força em membros inferiores
✔ Déficit de equilíbrio e propriocepção
✔ Tempo de reação reduzido
✔ Alterações na marcha (passos curtos, base alargada, arraste)
✔ Diminuição da visão e audição
✔ Uso de medicamentos com efeitos colaterais (como tontura e hipotensão)
✔ Medo do movimento (kinesiofobia)

E um ponto negligenciado: o ambiente interno do corpo responde ao ambiente externo. Se a musculatura está desorganizada, se o sistema sensorial está desafiado e o idoso tem medo de se mover, o risco de queda aumenta mesmo em ambientes aparentemente seguros.

Como o Funcional Atua na Prevenção de Quedas?

Os exercícios funcionais, quando bem aplicados, atuam diretamente nas habilidades motoras necessárias para evitar uma queda ou recuperar o equilíbrio após um desequilíbrio. Ou seja: o funcional simula e fortalece os gestos do cotidiano, não apenas os grupos musculares isolados.

✔ Trabalha padrões como levantar-se, girar, mudar de direção, alcançar e agachar
✔ Melhora a reação postural frente a desequilíbrios
✔ Reforça a musculatura estabilizadora (core e MMII)
✔ Estimula a coordenação inter e intramuscular
✔ Reativa circuitos neuromotores que estavam inibidos pelo medo da dor ou da queda
✔ Promove confiança corporal, aspecto essencial na prevenção secundária

Quais os exercícios funcionais mais eficazes?

A prescrição deve ser individualizada, baseada em avaliação funcional e nível de risco. Mas alguns movimentos são amplamente usados com eficácia:

✔ Levantamento da cadeira sem apoio (Chair Rise)
✔ Caminhada com obstáculos leves (cones, bastões)
✔ Transferência de peso lateral e frontal
✔ Step-up e Step-down em plataformas baixas
✔ Equilíbrio unipodal assistido e sem apoio (progressivo)
✔ Deslocamentos com mudança de direção
✔ Agachamento parcial (com ou sem apoio)
✔ Marcha rápida com comandos verbais (cognitivo-motor)

Cada um desses exercícios estimula múltiplas habilidades: força, coordenação, equilíbrio, estabilidade central e controle postural.

E quanto ao medo de cair?

A queda não deixa só marcas físicas. Muitos idosos desenvolvem síndrome pós-queda, com medo intenso de andar, sair de casa ou realizar movimentos simples. Esse medo leva à imobilidade, que leva à fraqueza, que leva... a novas quedas.

Por isso, o trabalho com funcional deve incluir:

✔ Treino de autorresgate e consciência corporal
✔ Movimentos simulando tropeços (com segurança e supervisão)
✔ Estímulos sensoriais (tapetes, superfícies diversas)
✔ Exercícios em dupla ou grupo, para trabalhar confiança e socialização
✔ Progressão gradual, que gera sensação de sucesso e reforça a autonomia

Resultados na prática clínica

Estudos mostram que programas de treinamento funcional reduzem significativamente a incidência de quedas. Um exemplo é o Otago Exercise Programme, que combina força de membros inferiores e equilíbrio funcional. Seus resultados mostram uma redução de até 35% no risco de quedas.

Outro estudo de Sherrington et al. (2019) reforça que intervenções com foco em força funcional e equilíbrio dinâmico são as mais eficazes na prevenção de quedas em idosos comunitários.

Conclusão: Funcional é Intervenção, Não Apenas Exercício

Quedas não são inevitáveis. São evitáveis com avaliação, escuta ativa e estratégias baseadas na função. O exercício funcional é mais do que um treino, é uma forma de devolver ao idoso o que ele mais precisa: controle sobre o próprio corpo e sobre sua vida.

Como profissional, sua atuação pode ser o divisor de águas entre a autonomia e a dependência. E com conhecimento, prática e os recursos certos, isso está ao seu alcance.